quinta-feira, 27 de maio de 2010

Um amor para toda vida

Essa história seria diferente se naquela tarde de sexta-feira, mais precisamente dia 14 de janeiro , Sthefen não tivesse saído duas horas mais cedo de seu trabalho para ir ao meu encontro, no shopping onde eu trabalhava como vendedora em uma loja de roupas intimas.Combinamos que ele me encontraria as 19h00min para irmos até o bufê onde seria nosso casamento. Sempre exagerado e nem tão paciente quando o assunto era esperar, Sthefen chegou exatamente 1 hora e meia mais cedo do horário combinado, esperava-me ansioso no saguão.
Ele vestia um paletó preto com uma gravata vermelha, estava elegante, andava de um lado para o outro e não desgrudava um só minuto os olhos do relógio de pulso que o acompanhava todo o tempo.
Eu trabalhava naquele instante, sem nem ao menos imaginar que ele já estava a minha espera, mas estava tão ansiosa quanto Sthefen, contando cada segundo até a hora de acabar meu expediente.
Uma mulher entrou na loja, começou a olhar as roupas, em seguida entregou-me o que iria comprar e eu fiz sua nota fiscal, ela partiu.
Faltavam dez minutos para que Sthefen saísse de seu trabalho, isso se ele não fosse apressado e estivesse a minha esperava no saguão do shopping. Encostei-me no balcão e der repente senti um aperto em meu coração, tão forte a ponto de fazer-me inclinar o corpo. Coloquei a mão sob meu peito e a dor parecia não querer acabar mais nunca, olhei para o relógio e nele marcava exatamente 18:00min.
Fez-se um silêncio em todo o shopping e em frações de segundos todo esse silêncio tornou-se uma tremenda gritaria, uma correria de pessoas de um lado para o outro, mães querendo proteger seus filhos, sacolas sendo deixadas para trás, por fim, um disparo que fez eco em todo andar. Fiquei sem em tender ao certo o que de fato acontecia.
Em seguida escurei algumas vozes que chegavam até a loja, como se viessem de outras dimensões.

-Ele está ferido –Escutei sem ao menos saber se a voz era de um homem ou mulher.

-Meu Deus, chame uma ambulância, esse moço precisa de ajuda. –Mais uma vez escutei alguém, uma voz que vinha de longe, quase sem ter como entender.

Não agüentando mais ficar parada sem fazer nada, sai correndo pelo corredor do shopping e cheguei até o saguão, ali estava Sthefen, baleado no peito, jogado no chão.
Quando olhei para ele, quase não pude acreditar, eu entrei em desespero, comecei a empurrar as pessoas que rodeavam o local, joguei-me junto a ele, fiquei ajoelhada ao lado de seu corpo, seu peito sangrava e uma roda de sangue formava-se pelo chão ao meu redor, mal consegui reagir diante aquela situação, vendo Sthefen inconsciente, deitei sob ele, o abracei como se o meu calor o fizesse acordar. Foi em vão.

Senti mãos puxando-me pelas costas, arrastando-me para longe dele, eram enfermeiros que chegavam com uma ambulância, prontos para levá-lo para um hospital próximo. Colocaram Sthefen em uma maca, onde o empurraram até o estacionamento, eu corria atrás deles, seguindo-os, queria ficar por perto, saber de tudo. Fui na ambulância ao lado dele, segurei suas mãos o tempo todo, até chegar ao Pronto Socorro.

Sthefen foi submetido a uma cirurgia de emergência logo que chegou ao hospital, os médicos tentavam fazer com que ele reagisse ao ferimento, mas isso era quase impossível .

Fiquei horas do lado de fora com minha roupa ensangüentada por ele, desesperada, com as mãos na cabeça e olhando para o chão, sentada no sofá de uma sala de espera, o que mais me parecia o dia do meu juízo final. Enjoada de tomar café, cansada de esperar. Ele teria entrado em uma sala cirúrgica sem eu ao menos saber se voltaria, era quase impossível manter-me sem chorar, mas minha vontade mesmo era de gritar, implorar para que ele sobrevivesse e pedir para que não me deixasse. Como eu queria abraçá-lo, estar ao lado dele nesse momento. Eu queria poder salva-lo apenas com o toque das minhas mãos e nessa hora eu era apenas ninguém.
Uma médica chegou 5 horas depois da nossa chegada ao hospital, viera dar-me notícias, falar sobre o estado do Sthefen, sua fisionomia não era das melhores, o que me deixou ainda mais apavorada. Olhou nos meus olhos e quase sem saber como falar sobre o assunto, sussurrou muito calma:

-Sthefen esta em coma, por um dia, um mês, anos ou pela vida toda.
Sem querer acreditar cai no chão em um grito que assustou as pessoas, não conseguia imaginar minha vida com o Sthefen praticamente morto.

-Levante mocinha, não pode ficar ai, você vai acabar passando mal, não quer isso, quer? –Disse a médica em um tom de voz doce.

-Eu quero muito mais do que isso, quero morrer, minha vida está acabada. –Gritava
feito uma louca.

-Vamos, levante já daí. Diga-me qual o seu nome?

-Luiza, meu nome é Luiza. –Eu levantei do chão enquanto limpava meu rosto.

-Você precisa tirar essa roupa querida, vai para casa, tenta descansar um pouco talvez. – Ela tentava acalmar-me, o que parecia impossível de conseguir.

A médica saiu, havia desistido de tentar me animar, continuei ali sentada, sem saber ao certo o que fazer, tentando pensar positivo, quem sabe isso faria Sthefen acordar e ficar bem novamente.Peguei o celular dentro do bolso do meu casaco, liguei para casa, tentei dar uma explicação pelo meu sumiço repentino a minha mãe, explicar o que havia acontecido com o Sthefen e pedir roupas limpas. Sthefen era órfão de pai e mãe e seus parentes mal se importavam com sua existência, vivia como se minha família fosse mesmo a nossa família. Éramos um só, em tudo.

-Alô, mãe? –Foi à única frase que consegui dizer.

-Sim minha filha, sou eu, o que houve? Aconteceu alguma coisa? Que voz é essa Luiza? –Ela fazia diversas perguntas de uma só vez, deixando-me ainda mais confusa, demonstrava estar preocupada.

-Mãe, é o Sthefen, mãe, vem pra cá, estou no hospital, ele vai morrer. –Eu chorava, falava coisas sem sentido.

-Luiza, o que tem o Sthefen filha? Por que ele vai morrer?

-Ele foi baleado mãe, eu preciso da senhora aqui, estou no Pronto Socorro da cidade mesmo, vem ficar comigo mãe, não demora, estou com medo.

-Tudo vai ficar bem queria, estou indo até ai, fica calma. –Mesmo querendo me acalmar sua voz não negava que estava tão nervosa quanto eu.

-Traga roupas, estou completamente suja. –A ligação caiu e não consegui retornar.
Passou cerca de uma hora, era madrugada e minha mãe chegou. Levou um susto quando me olhou e percebeu que minha roupa estava ensangüentada.

-Luiza minha filha –Parou na minha frente e abraço-me tão forte que mais uma vez não contive as lágrimas.

-Mãe, ele está em coma e isso pode durar para sempre, eu o perdi mãe, o perdi.

Ficamos algum tempo sentadas naquele sofá gelado da sala de espera, expliquei como tudo havia acontecido e fui ao próprio banheiro do hospital trocar de roupa, deixar de lado o casaco ensangüentado.

Minha mãe já era de idade, não podia ficar o tempo todo ali comigo por mais que eu quisesse, sofria de pressão alta e diabetes, passar nervoso a deixava pior e tudo o que eu menos precisava eram mais problemas.

-Mãe, pode ir agora se quiser, vou ficar aqui, preciso vê-lo. –Falei um pouco mais calma do que nas outras vezes.

Então nós duas levantamos do sofá, ela me abraçou e a deixei voltar para casa. A mesma médica que havia falado comigo antes, estava passando pela sala, fui até ela correndo e a puxei pelo jaleco.

-Doutora, por favor, fale como o Sthefen está eu preciso de notícias, estou morrendo aos poucos aqui.

-Luiza, sinto-lhe dizer, Sthefen está do mesmo jeito que foi para o quarto, respirando pelos aparelhos e ainda em coma.

-É só isso que tem para dizer? –Perguntei aflita.

-Sim, diga-se de passagem, que é somente isso que tenho para lhe dizer.

-Posso entrar no quarto para tocá-lo? Olhar para ele, eu posso doutora?

-Ainda é muito cedo para você entrar no quarto, ele está em observação, espera até
o amanhecer. –Falou e logo saiu para atender aos seus outros pacientes.

Mais uma vez sozinha, esperando por respostas. Sem poder fazer alguma coisa, bebi mais um gole de café, depois sentei com as pernas encurvadas no sofá, fazendo uma volta com meus braços sob elas, baixei a cabeça e meus cabelos ficaram soltos para baixo, tentei dormir e obviamente não foi possível, não consegui pregar meus olhos um só instante, pensei no Sthefen todo o tempo, todas as horas, minutos e segundos.

Finalmente amanheceu, teria sido a noite mais longa de toda a minha vida, a mais triste também, nunca havia me sentido tão impotente, incapaz de ajudar em qualquer coisa para vê-lo abrir os olhos mais uma vez.
Uma enfermeira colocou a mão na minha cabeça e então levantei o rosto lentamente, minhas olheiras profundas falavam por si só, minha boca estava seca e meus olhos quase fechando sozinhos.

-Luiza, você esta aqui desde ontem, por que não come alguma coisa? –Ela falou demonstrando sua preocupação a me ver sozinha naquele estado.

-Não tenho fome, só quero ver o Sthefen, por favor, deixe-me entrar no quarto.

-Tubo bem, você vai vê-lo, tente ser forte Luiza. –Ela sorrio, tentando deixar-me confortada.

Entramos para a unidade de emergência do hospital, tantas pessoas morrendo pelos corredores, outras que já chegavam mortas, alguns feridos. Senti meu estomago embrulhar, um enjoou forte que fez por um momento apagar minhas vistas, mas logo passou, deveria ter sido só um mal estar passageiro.
Continuamos andando e então entramos no elevador, que nos levou até a unidade semi intensiva, onde estava Sthefen. Coloquei roupas adequadas para entrar no quarto, luvas, touca, uma roupa especial e também cobri meus sapatos, entregaram-me uma mascara, todo cuidado era pouco. Entrei no quarto, pensei que ali mesmo fosse ficar morta ao lado dele, por que para mim ele estava praticamente morto.

-Você tem 15 minutos Luiza – Falou a enfermeira.

-Tudo bem. –Respondi abaixando a cabeça em seguida.

Fiquei olhando para ele durante metade do pouco tempo que tinha para estar ao seu lado. Pensei em como seria dali para frente, os meus dias, a vida dele, fiquei pensando se ele sobreviveria, como seria se partisse. Chorei pelo restante do tempo e logo precisei sair.

Tirei a touca, luvas, roupa, decidi ir para casa, tomar um banho, avisar a gerente da loja sobre o que tinha acontecido, organizar meu tempo, avisar aos amigos e o restante da minha família do estado de Sthefen. Toda responsabilidade estava em minhas mãos.

Então sai do hospital correndo, peguei um taxi em um ponto que tinha ali próximo e fui para casa. Chegando eu organizei alguns documentos que seria preciso para o Sthefen permanecer no hospital, arrumei minha bolsa, liguei para a loja e expliquei que ficaria afastada por um tempo, avisei amigos e parentes, tomei um banho gelado para manter-me acordada, coloquei uma roupa, arrumei meu cabelo e deitei na cama em meu quarto, ali não consegui ficar sem dormir.
Acordei sonhando com Sthefen, levei um susto e levantei em um só pulo, já estava escuro lá fora, vi pela janela. Desesperada, escovei os dentes, peguei minha bolsa e fui saindo de casa novamente, voltaria para hospital e passaria a noite mesmo que do lado de fora do quarto onde estava Sthefen, mal jantei, a essa altura não sentia mais fome, bebi apenas um copo de água.

-Tchau mãe, eu volto amanhã, preciso estar por perto, ele pode precisar de mim. –Dei um beijo em seu rosto, ela estava deitada no sofá.

-Tchau Luiza, fica bem. –Seu olhar era triste.

Fui para o hospital, e ali passei mais uma noite, deitada no sofá, coberta com meu casaco, a noite era fria, o hospital vazio, o máximo que passava por ali eram enfermeiras e médicos que corriam de um lado para o outro.

Passaram-se semanas, Sthefen se encontrava no mesmo estado, em coma, minhas esperanças estavam vivas dentro de mim, não as perdia por nada, mesmo que os médicos dissessem ser um caso que só seria resolvido por um milagre, eu acreditava que ele ficaria bem, eu ainda tinha fé que nosso casamento aconteceria mais cedo ou mais tarde. Dentro do meu coração eu tinha a certeza de que Sthefen sorriria para mim mais uma vez, ele abriria os olhos hoje ou amanhã, falaria que me amava e seriamos muito felizes. Eu tinha certeza que ele ficaria bem, tinha absoluta certeza.

Sthefen ainda estava vivo por conta dos aparelhos, faziam um barulho irritante, quando eu estava ao seu lado o barulho entrava em meus ouvidos como um som que indicavam a morte, o início do fim, eu só não queria acreditar nessa hipótese, preferia continuar com minhas esperanças até que a vida provasse que elas eram em vão.
Eu sempre conversava com Sthefen, mesmo ele estando ali deitado naquela cama.
Quando uma pessoa entram em estado de coma, elas são capaz de ouvir, sentir, até mesmo responder com sinais, elas só não conseguem reagir e voltar ao seu estado normal. Sentia que ele entendia de alguma forma o que eu falava, às vezes mexia os dedos dos pés, ou das mãos, o que me deixava ainda mais agoniada, perdi as contas de quantas vezes chamei a enfermeira dizendo que ele estava acordando.

-Sthefen, eu te amo tanto, minha vida não tem sentido sem você aqui comigo, tudo parou meu amor, desde o dia em que tudo isso aconteceu. Olha, vai ficar tudo bem eu prometo, o nosso amor é maior do que isso tudo, o meu amor por você vai salva-lo, você vai ver só. Agüenta firme, você sempre foi tão forte. – Eu sorri, ao mesmo tempo sussurrava bem perto dele. – Você vai ficar muito bem. –Sai rapidamente da sala, não queria demonstrar a minha tristeza, nem queria que escutasse meu choro, caso ele fosse mesmo capaz de sentir a minha presença ao seu lado.

Fui para o lado de fora do hospital, sentei em uma escada que tinha ali mesmo, acendi meu cigarro, enquanto fumava pensava nele é claro. Era a única pessoa que ocupava meus pensamentos vinte e quatro horas por dias. Com um dos braços cruzados, soltando a fumaça para o alto, todos os nossos momentos juntos passavam correndo em minha mente e como em um filme eu apertava pausa nos mais importantes.

- Quanta saudade eu tenho de você, às vezes acordo com o gosto de seus beijos em meus lábios, sinto o calor dos seus abraços apertados e consigo arrepiar-me com o toque de suas mãos deslizando em meu corpo, seus carinhos em meu cabelo fazem falta todas as noites quando deito para dormir e percebo que no outro lado da cama você não está presente, logo agora que finalmente iríamos nos casar Sthefen, porquê você fez isso? Por quê? Você jurou nunca me deixar e agora esta aqui em um quarto de hospital. Eu quero olhar em seus olhos mais uma vez, quero dar risada ao seu lado, admirar o seu sorriso Sthefen. – Eu sussurrava baixinho comigo mesma essas palavras, chorava e soluçava em silêncio, o meu cigarro ia se acabando.
O tempo passou, cada dia parecia anos naquele sofá da sala de espera, mas agüentei, agüentei cada momento de tristeza, cada momento de angustia, segurei a barra até o momento em que descobri estar grávida.

-Mãe, eu não quero mãe, eu não posso, faz um mês que o Sthefen está do mesmo jeito que chegou no dia em que foi baleado, como posso ter uma criança agora mãe? –Eu chorava feito um bebê.

-Luiza, você precisa começar a se cuidar, agora tem que pensar em você e nesse neném que está a caminho querida, não pode deixar suas forças acabarem.

-Eu não consigo mãe, eu não sou tão forte assim, eu estou exausta, cansada de tudo isso mãe, a gente não merecia passar por tudo que estamos passando, não merecíamos.

-Querida, não há o que fazer, você vai ter esse filho, por que ele é fruto de seu amor com Sthefen, mesmo que nesse momento ele não esteja aqui para te apoiar. Ele estaria feliz agora, pense nisso. –Ela saiu para a varanda após terminar de falar.

Essa noite passei em meu quarto, trancada pensando em como seria ter um filho. Com as mãos deslizando em minha barriga eu consegui me animar pensando em tudo que minha mãe havia dito. Logo que amanheceu fui para o hospital, eu precisava contar para o Sthefen isso tudo que estava acontecendo, ele tinha que saber que seria pai em breve.

Cheguei no hospital e fui direto para o quarto, entrei e fiquei em pé, ao lado dele.Peguei uma de suas mãos, que não estava com soro, coloquei em cima da minha barriga e muito emocionada abri minha boca para contar essa novidade tão repentina.

-Sthefen, esse aqui é o nosso filho, o fruto do nosso amor, querido, pode sentir? –Eu sorria e falava ao mesmo tempo, como se ele estivesse acordado. - O nome será Sthefen se for um menino, igual você meu amor. Você colocou dentro do meu ventre uma felicidade eterna, em meio a tanta tristeza eu pude sorrir mais uma vez. Eu te amo Sthefen.

Passaram-se mais 7 meses e minhas forças estavam se acabando a cada dia, eu tinha cada vez mais certeza de que Sthefen vegetaria até sua morte, isso causava uma tremenda dor em meu peito. Minha barriga estava enorme, eu não tomava os devidos cuidados com a criança, fumava a todo tempo,era como um consolo para minha dor, era muito mais forte do que a mim mesma e mesmo pensando com muito amor nessa criança, eu não conseguia controlar o meu vicio.
Uma noite estava em minha casa com minha mãe vendo o jornal, um dos médicos ligou-me pedindo para ir rapidamente até o hospital, disse que Sthefen teria dado uma melhorada. Rapidamente coloquei outra roupa, peguei minha bolsa e voltei para o hospital, chegando lá, o médico que fazia o seu acompanhamento disse que ele teria acordado. Não consigo descrever o tamanho da minha felicidade, não existe presente maior do que Sthefen vivo e o nosso filho que estava para nascer.

Entrei no quarto, e ele estava com os olhos abertos, olhavam para mim como se quisesse dizer alguma coisa, ai então segurei sua mão, ele sorrio de lado e fazendo muita força, disse devagar:

-Eu te amo Luiza, além da vida.

Meu coração acelerou, minha garganta formou um nó, uma chama de esperança queria a todo custo acender por completo, virar uma brasa de fogo, voltar a surgir em meu peito.

-Te tenho com a certeza de que você pode ir, te amo com a certeza de que irá voltar,pra gente ser feliz, você surgiu e juntos conseguimos ir mais longe, você dividiu comigo a sua história e me ajudou a construir a minha, hoje mais do que nunca, somos dois-Cantei para ele e sorri com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Igual a uma criança, Sthefen fechou os olhos e dormiu para sempre.

Não pude acreditar no que estava acontecendo, bem no fundo do coração eu já sabia que isso poderia acontecer cedo ou tarde, mas com a ligação do médico, com o abrir dos olhos de Sthefen, cheguei a pensar que toda aquela situação estaria acabando, naquele momento cheguei a pensar que ele realmente estava melhorando, foi uma facada em meu peito presenciar sua morte.

-Sthefen meu amor, não me deixe, você não pode ir, temos o nosso filho para criar, não me deixe – Gritava ao falar, aos prantos, sem crer na situação.

-Luiza, não temos mais o que fazer, geralmente é assim, os pacientes tem uma melhora e partem, você precisa ser forte.

-Cansei de ser forte, não agüento mais. –Eu chorava e ao mesmo tempo secava o rosto com a manga do meu casaco.

Não aceitando sua morte, indignada com os motivos de estar ali sem vida, segurei-o pela roupa do hospital e chacoalhei o mais forte que pude, tinha a intenção de fazê-lo voltar, tudo tão errôneo de minha parte. Completamente sem sentido algum tudo o que estava fazendo, ele jamais voltaria a ser o meu Sthefen repleto de planos e vida para dar e vender.

A noite passou, toda parte burocrática para seu velório e enterro foi vista pela minha mãe, eu estava tão morta quando Sthefen, meus olhos falavam que em meu corpo não havia mais vida, apenas em meu ventre crescia uma criança que eu ao menos consegui dar atenção enquanto um feto.
Passei toda manhã em seu velório, agarrada ao caixão, disposta a não deixá-lo ir embora, quase uma louca, sem noção das minhas atitudes, sem medir palavras a ser dita, alguém sozinha desde o disparo de uma bala perdida que encontrou o meu futuro marido, por acaso ou não, por algumas horas de antecedência ou não, talvez um destino cruel e nada além disso.

Como eu temia, chegou à hora de uma despedida final, a primeira e a ultima de nós dois. Segui junto a outras pessoas o caixão, levado por homens fortes e vestidos de preto, subiam toda rua do cemitério.

Era como se eu estivesse ali dento, ao lado de Sthefen, indo embora também e deixando as pessoas de uma só vez com nosso filho, os três jutos. Foi com essa sensação que segui até sua cova.
Desceram o caixão aos poucos e joguei uma rosa branca para que levasse com ele, todo cemitério cheirava flores, um perfume que exalava por todos os lados. O céu estava azul e o sol era muito forte nesse dia, alguns urubus voavam sob nossas cabeças e fazia um barulho das árvores que balançavam com o vento de um lado para o outro em total sintonia. As pessoas me abraçavam, como se isso me consolasse. Pediam para eu ser forte, mas começando sem entender o porquê dessa crueldade com Sthefen já perdia todas as minhas forças.


Olhei para o céu e disse:

-A Sthefen, você levou embora uma parte de mim no momento em que foi sepultado, a outra parte morrera a cada dia sem sua presença aqui. Eu te amo, amo muito. –Fui saindo devagar do cemitério, ao lado da minha querida mãe.

Ao entrar no carro, comecei a sentir dores horríveis em meu ventre, cheguei a sentar no chão e sem conseguir levantar passei as mãos em minhas coxas.

-Me ajuda mãe, chama alguém, estou sangrando. – Eu gritava, agora com medo de perder a única parte importante que sobrará em minha vida.

-Calma filha, vou te colocar no carro e você vai ficar bem, sua bolsa estourou, provavelmente o neném esta querendo nascer um pouco antes da hora. –Sua voz era suave, como uma canção de ninar.

Passei a delirar, todo o cansaço, descuido com a gravidez, preocupação, nervosismo e má alimentação estava fazendo efeito naquela tarde, logo após o enterro de Sthefen.

Minha mãe levou-me imediatamente até o hospital, quando acordei já estava em trabalho de parto, fizeram uma cesárea urgente, escutei o médico conversar com os enfermeiros.

-É um menino, vejam só.

-Ele é lindo – Disse uma mulher que ali estava presente, provável que seja uma enfermeira também.

-Me deixemeu dar um beijo nele, por favor -Eu quase implorei para os médicos.
Colocaram-no do meu lado, tão pequeno e indefeso, me fez sorrir e chorar ao mesmo tempo, quanto sofrimento e quanta felicidade, não pode descrever o que senti ao ver meu filho Sthefen, tão dependente de mim.

Ficamos algum tempo no hospital, o pequeno Sthefen precisava ganhar peso, tomar alguns medicamentos, nasceu tão pequeno em comparação as outras crianças. Eu o observava aquela coisinha tão frágil por horas, sem cansar-me, todos os momentos eu passei ao lado dele, acompanhando seu crescimento, seus primeiros dias de vida.

Três anos após a morte de Sthefen e o nascimento da minha mais preciosa jóia

Esses três anos, passei ao lado do amado filho, contei a ele sobre seu pai. Uma vez por semana íamos juntos até o cemitério, levávamos flores e o meu pequeno grande Sthefen sempre fazia alguns rabiscos em folhas, dizia serem “as cartinhas do papai”. Ele era a minha maior felicidade que eu poderia ter em meio a tanta angustia, o único que conseguia tirar um sorriso do meu rosto, com um abraço me acalmava, com uma só palavra mudava os meus dias de toda semana, eu aprendi com meu filho outro tipo de amor, incondicional, absoluto.

Sempre tentei ser o melhor para o meu pequeno príncipe, uma mãe tão boa quanto a minha, mas minha dor ainda era imensa. Às vezes ia dormir com a impressão de que não fosse mais levantar, em sonhos Sthefen vinha para me buscar, tinha a sensação de que estava ficando louca, escutava vozes, escutava a voz dele. Sentia seu calor, arrepiava-me como se fosse um sinal que indicava sua presença, todas as noites era a mesma coisa, o cheiro do perfume que usava se espalhava quando todos estavam em silêncio como se somente eu pudesse sentir, começava no meu quarto e ia até a sala.

Nas vozes que eu escutava, ele sempre dizia quase a mesma coisa.

-Cuida bem do nosso pequeno Sthefen, ele nos ligara para sempre, onde quer que nós estejamos. Eu te amo Luiza

-Sou completamente sua, até morrer. Eu te amo de uma forma que meu coração chega doer Sthefen. Você foi o grande amor da minha vida, sempre será, onde quer que eu esteja estou pensando em nós dois, esperando para te encontrar só mais uma vez. Sonho com o brilho dos seus olhos, sinto o seu gosto e consigo vê-lo nas mais pequenas coisas.Parte de nós dois me acompanha todo o tempo, o nosso filho, ainda tão pequeno é a maior herança que você poderia deixar-me, vamos nos encontrar, me espera. Eu te juro o meu amor, meu eterno amor. –Foram as palavras que eu disse à ele em um dos meus sonhos, onde segurava suas mãos, conforme eu ia acordando aos poucos, ele me soltava lentamente e mais uma vez eu encontrava forças para caminhar.

Nosso amor vai além da vida, eu sei.



minha Olía ♥

Worabey waloda

domingo, 23 de maio de 2010

Nostalgia

uns 10 anos atrás não existia orkut. o 'te amo' não era banalizado. as crianças iam à parques e não tinham problemas de visão nem obesidade dados pelos videogames e computadores. mc donalds custava 4 reais. kinder ovo, 1 real. os namoros duravam mais, ou pelo menos duravam alguma coisa; e traição era um escândalo. a piada da galinha atravessando a rua era engraçada. para ser presidente eram necessários 10 dedos e um mínimo de alfabetização. meninas de 11 anos brincavam de boneca, e não saíam pra 'pegar geral'. plutão era um planeta . festas de 15 anos não eram eventos. ser 'playsson' ou 'pitboy' não fazia diferença. a intenção num show era ver o show e não brigar. tênis de luzinha era essencial . ICQ era o meio de comunicação. pessoas realmente se conheciam e não apenas pela internet. fotos eram tiradas para recordarem um momento, e não para servir de book no orkut. diesel era combustível. merthiolate ardia. bonde era meio de transporte e bala era juquinha e 7 bello, e não perdida ou droga.


domingo, 9 de maio de 2010


peço desculpas

pelo meu afastamento com a escola eu fikei meu cheio de coisas pra fazer
e tambem por nao terminar a outra historia --'
mas eu tava aqui a mecher em minhas coisas e encontrei uma historinha beeem legal
mas ta sem capas e tals

essa eu prometo terminar